Freddy Van Camp fala sobre sua carreira e o design no Brasil
Fazer uma lista com todas as contribuições de Freddy Van Camp para o design brasileiro é um desafio. Sócio-fundador do escritório Van Camp Design e professor da ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial), o designer acumula prêmios e está prestes a passar seu cargo de representante do design junto ao Conselho Nacional de Política Cultural do Ministério da Cultura a um novo candidato, que será decidido ainda este ano. Edita também o boletim Sinal, da ESDI, que já acumula cerca de sete mil assinantes. Em entrevista ao Design Brasil, Freddy Van Camp fala sobre sua carreira, o espaço cedido ao design pelo governo e o que pensa sobre o design no Brasil.
O senhor está prestes a deixar o seu cargo de representante do design junto ao CNPC para dar vez a um novo candidato. Em sua opinião, qual a importância de um novo representante junto ao MinC?
É fundamental para nossa área. É um espaço que não existia, e foi concedido em função do interesse do MinC em ter o design sob sua tutela. Ainda não somos vistos como área de inovação, e isso vai trazer emprego, reconhecimento. Na época em que fui eleito como o primeiro representante, eu ainda não possuía um colegiado que me apoiasse. E eu estava empenhado em reverter esse quadro.
O design no Brasil já chegou a um ponto em que pode ser incorporado junto ao Ministério da Cultura?
Acredito que sim. Quando Gilberto Gil foi ministro da Cultura, houve uma grande mudança no MinC, e a economia criativa passou a ser valorizada. E isso foi muito positivo, já que sempre houve a ideia errada de que a música, cinema e afins fossem apenas entretenimento. Cultura, antes disso, ainda não era encarada – pelo menos seriamente – como auxílio à educação. E agora já é política pública. E isso tanto é verdade que qualquer município pode incentivar o design. Se uma cidade pequena tiver um folclore ou gastronomia fortes, o incentivo ao design pode ajudar a divulgar esses valores culturais. E isso já dá a dimensão do espaço político que conquistamos. O que os políticos dessas cidades podem e devem fazer é buscar informação sobre isso.
O senhor é coordenador do boletim Sinal. Qual a proposta desse boletim? Como foi formada a equipe que colabora com ele?
Já o editamos há 10 anos, e a ideia inicial era que ele circulasse dentro da escola, para atingir alunos e ex-alunos. Depois nós o ampliamos para dar dicas a alunos que tivessem interesse em entrar na ESDI. É um boletim simples, mas que já tem cerca de sete mil assinantes, e divulga informações importantes. Somos, inclusive, referência na área pelos assuntos que abordamos. Ele teve início como ideia de um professor, que hoje já está aposentado. Depois, agregaram-se mais professores e alguns estagiários, e a equipe é renovada com o passar desses estagiários.
Como o senhor avalia o mercado do design brasileiro hoje em dia?
O mercado cresce, mas poderia ter crescido mais. Temos um mercado interno forte. Com a nova classe média, o poder de compra gera e gira a economia. O Brasil inova muito em produtos, mas, por outro lado, os designers brasileiros poderiam ser muito mais utilizados pela nossa indústria. Prova da qualidade de nossos profissionais é que todas as multinacionais no Brasil utilizam designers brasileiros, como a Volkswagen, que até mesmo exporta designs criados por aqui. A GM é outro exemplo de multinacional que exporta modelos desenhados no Brasil.
Em sua opinião, o brasileiro já possui a cultura do design?
Em parte sim, mas ainda deixa muito a desejar. As pessoas notam o design sendo utilizado na mídia, nas aberturas das novelas, e também ficam sabendo de eventos de design de interiores. Há vários aspectos em que já se fala disso, e é claro que o assunto é mais comum em cidades cosmopolitas. Há design até mesmo em prateleiras de supermercados, e embora nem todas as pessoas já tenham consciência disso, é certo que o design é um fator decisivo na hora da escolha dos produtos. O conhecimento público do que fazemos é muito confundido, muitos acham que somos artistas. Mas o que as pessoas precisam saber é que o produto faz parte da nossa cultura. Quando estudamos sobre nossos ancestrais da era mesozoica, estudamos seus objetos, utensílios e armas. Produtos são importantes.
Em seu escritório, já vivenciou algum caso em que um case seu como designer trouxe um impacto muito forte para a empresa que o contratou?
Trabalhei com muitos clientes, embora não tanto quanto eu gostaria. Por 14 anos eu atendi a ML Magalhães, e fiz tudo por essa empresa no que diz respeito à design. Ganhamos prêmios, inclusive, e a ela foi a primeira empresa brasileira a ser admitida no ICSID – International Council of Societies of Industrial Design (Conselho Internacional das Sociedades de Design Industrial). Há um produto criado por nós (Van Camp Design) que completou 20 anos em 2011, a Cadeira Delta. Mesmo após tanto tempo, esse produto continua tendo boas vendas – não tão boas quanto na época de seu lançamento, mas o suficiente para que a empresa ainda o mantenha no mercado. E este é um feito que acho que dificilmente repetirei.
O Design é um curso muito procurado atualmente entre jovens estudantes. Que conselhos o senhor poderia dar a um jovem que pretende seguir a carreira de designer?
É difícil. Não sei se eu daria conselhos em relação a isso, pois já há designers demais, o mercado está saturado. Mas se persistir na ideia, acho que é essencial que a pessoa se identifique com a área. E que pense em criar produtos não apenas para obter um retorno financeiro, pois o Brasil precisa de um bom design para a sociedade, a indústria e o desenvolvimento do país.
Texto e entrevista por Julliana Bauer – Rede Design Brasil